16.6.07

QUEM É MAIS QUE VENCEDOR?

Nos últimos dias tenho visto muitos “programas evangélicos”, alguns gostam de chamar de “cultos televisivos”, afinal são verdadeiros cultos mesmo, tem louvor, pregação da palavra é até recolhem dízimos e ofertas.
Também tenho analisado muito algumas pregações que tenho visto “ao vivo”, e algo tem me incomodado, como sou um sujeito pouco egoísta gosto de dividir meus incômodos através deste blog, quem sabe você também se incomode... Muitos incomodados podem acabar mudando o mundo...
Vemos freqüentemente pregações e testemunhos de vitórias e conquistas, parece que o verso 37 do oitavo capítulo da carta aos Romanos virou uma espécie de slogam “somos mais que vencedores”.
Não tenho nada contra a vitória, considero-me um vitorioso, tampouco sou daqueles que acham que para alcançar a graça temos que nos chicotear as costas, como diz uma canção de trio elétrico – é coisa de maluco, mas tem gente que gosta / de vela derretida e chicotada nas costas... – também não compartilho das angustias e da coragem de Tolstói a ponto abandonar minha riqueza e ir morar com os pobres, e olha que Tolstói é um dos meus escritores preferidos.
Mas daí a achar que tudo é vitória e prosperidade... Tudo bem que Deus nos diz através do salmista que nada nos faltará (por que será que esse Salmo 23 é o mais conhecido?), mas também diz através da biografia escrita por Mateus no verso 24 do capitulo 19 que é mais fácil um camelo passar por um buraco de agulha que um rico entrar no Reino de Deus.
Nos apelos para que os “gentios” se convertam é comum frases do tipo: “Jesus resolve todos os problemas”; “a única forma de resolver isso é com Jesus”; “Jesus pode te ajudar”; “Aceite Jesus e seja vitorioso”.
Tudo bem que nenhuma destas frases em si é falsa ou mentirosa, mas muitas vezes nos passam uma sensação de que aceitar Cristo é o mesmo que ter uma vida de facilidades, isso sim é falso. Verdadeiro estelionato religioso ocorre todos os dias a nossa volta, as pessoas vão às igrejas procurando resolver questões pontuais: a compra de um carro; de uma casa; a cura de uma doença... Enfim procurando “ser mais que vencedor”.
E onde fica a parte que Jesus é nosso Senhor e nós servos dEle? Ser servo significa obediência. As histórias nos mostra que optar pelo caminho de Jesus é difícil vejam alguns exemplos: Paulo foi de captado, e em suas viagens encontramos relatos freqüentes de prisões e espancamentos sofrido por este discípulo de Jesus; Estevão foi apedrejado; João batista foi decaptado; Pedro foi perseguido por Nero e crucificado de cabeça para baixo; André, segundo a tradição foi morto em uma cruz em forma de X; Tiago foi executado; Thiago filo de Alfeu foi apedrejado; Mateus foi assassinado na Etiópia; Bartolomeu foi esfolado vivo; bom a lista é extensa...
Será que estes não foram vencedores? A Bíblia não relata que Paulo enriqueceu, que Pedro “prosperou” na industria da pesca, relata que foram perseguidos, espancados, assassinados; relata muito sofrimento.
Mas estes apóstolos e tantos discípulos e “mártires” do cristianismo são mais que vencedores, portanto resta-nos reavaliar nosso contesto de vitória.
Devemos buscar primeiro o reino dos Céus e todas as coisas nos serão acrescentadas, mas que coisas? Os apóstolos buscaram o reino dos Céus primeiro e o que lhe foi acrescentado?
Devemos buscar ajuntar riquezas no reio dos Céus, e olha que não é com dizimo hein, dizimo não é poupança para vida eterna não é financiamento da obra na terra mesmo.
A Bíblia contém centenas de ensinos para que nós não nos apeguemos ao dinheiro, uma das minhas preferidas é que não devemos servir a dois senhores, para citar apenas mais uma: “Não confieis na opressão, nem vos desvaneçais na rapina; se as vossas riquezas aumentam, não ponhais nelas o coração.”(Salmo 62:10)
Se é assim porque buscamos tanto bênçãos financeiras? Quantos de nós (e eu me incluam) pedimos muito mais vezes “dinheiro”, do que a oportunidade de servir a Deus, ou mesmo quanto pedimos para nos aproximarmos do Pai?
Quem tem coragem de dizer: Pai é o seguinte, sou teu servo, envia-me a mim, eis-me aqui, mostre-me o caminho que eu caminharei, diga-me o que falar e eu falarei, diga-me para me calar e calar-me-ei...
Quantos de nós nos dispomos a levar a palavra de Deus para Somália ou Coréia do Norte (nestes paises o fato de ter uma Bíblia leva a pena de Morte)?
Quando aprenderemos que para que Jesus seja nosso Salvador primeiro temos que admiti-Lo como Senhor?
Recentemente vi um testemunho de uma mulher que foi curada, ela passou três meses sofrendo por conta de uma infecção hospitalar e os pontos da cirurgia que havia feito não cicatrizavam, mostrou várias fotos onde pareceu-me que apele e a carne dela já estavam em estado de putrefação e decomposição, e ela deu seu testemunho, foi curada e só podemos ver agora uma fina cicatriz. Aleluia, Gloria a Deus que ela foi curada, mas fiquei imaginando o quanto ela sofreu durante os três meses que a cura “demorou” para chegar. Quantas vezes ela deve ter imaginado que Cristo a abandonou? Quantas vezes se perguntou porque, porque eu? Porque cristo não me cura? Porque vou morrer? Imagino o quanto o sofrimento dela a ensinou.
Infelizmente o testemunho é só da vitória e não da batalha e o que nos ensina não é a vitória em si. Não aprendemos porque acertamos ou porque erramos, aprendemos porque tentamos, porque lutamos, porque a batalha é travada.
Mais que testemunhar a vitória devemos testemunhar a batalha, é o caminho para vitória ou para derrota que nos aperfeiçoamos.
Muitos dizem que para “nós cristãos” não existe derrota, fazemos parte do exército vitorioso. Quando ouço isso me dá até frio na espinha, imagino que nas minhas derrotas Cristo me abandonou? A vida não é só de conquistas, nós erramos, nós pecamos, nós “caímos”, nós perdemos...
E é isso que permite que experimentemos a graça e a misericórdia Divina, onde abunda o Pecado superabunda a graça (e nada de piadinhas gramaticais com a palavra a bunda).
Claro que não devemos pecar apenas para alcançar a graça, não é isso que quero dizer tampouco Paulo quando escreveu tal coisa.
Ser mais que vencedor é a certeza da salvação, a certeza que mesmo sendo imperfeito Deus busca você, mesmo perdendo Deus está do nosso lado, quando caímos Ele nos ajuda a levantar.
Conheço um homem que teve a coragem de pedir perdão a sua igreja no púlpito, diante de todos os membros confessou seu pecado, e é justamente porque ela confessou seu pecado (e os fariseus que são maioria nas igrejas o perseguem até hoje) que ele é mais que vencedor.
Ser “vitorioso” é fácil; subir em um púlpito para falar que comprou casa nova e carro novo é legal; subir no altar e relatar uma cura é bom; mas assumir que a luta é difícil e enfrentá-la, saber que erramos e assumir os erros, pedir perdão a Deus e saber que teu pecado tem conseqüências, não é legam, nem bom, mas é ser cristão.

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